sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Primitivas fazendas e seus senhores (continuação)

Textos originais de Enedino Batista Ribeiro (de 1950)

6º. MATHEUS JOSÉ DE SOUZA

Era português de nascimento, tendo vindo ao mundo no Arquipélago dos Açores, na Ilha Terceira, na cidade de Angra. Era homem de certo preparo intelectual.
A data exata do seu nascimento continua ignorada, tendo falecido com avançada idade em 1820.
Era filho de José de Souza Medeiros e de Inês Maria da Conceição, ambos açorianos.
Viera para o Brasil muito moço, chegando no Rio de Janeiro em 1759, onde se tornou grande proprietário  de terras, e de onde veio para Santa Catarina.
Tendo adquirido de Manoel Marquez Arzão, por escritura particular de 20 de abril de 1775, a Fazenda do Socorro, Termo de São Joaquim da Costa da Serra, no município de Lages, logo tornou-se abastado e conhecido fazendeiro.
Foi nesse tempo, 1778, por ocasião de uma viagem que fizera à cidade de Laguna, que conheceu Clara Maria de Athayde, filha do Sargento-mor Manoel Rodrigues de Athayde e de sua mulher Maria do Rosario. Matheus e Clara amaram-se, noivaram e pouco tempo depois casaram-se, vindo o casal residir na já então conhecida Fazenda de Nossa Senhora do Socorro, berço dos Souzas e dos Ribeiros.
Desta feliz união, nasceram os seguintes filhos:                             
1- Baldoína Maria de Souza (1787 ou 1788 – 1850)
2- Maria Benta de Souza (1790 – 1857)
3- Maheos José de Souza Júnior (1792 – 1873)
4- Manoel (José) Rodrigues de Souza (1796 – 1868)
5- João Batista de Souza (Inholo) (1800 – 1850)
6- Maria Athayde de Souza, ou Maria Magdalena de Souza (1803 - ?)
7- Francisco José de Souza (1809 – 1884)


Ao mesmo tempo que crescia em número e idade a família de Matheus José de Souza, vivia e era rico fazendeiro na Sesmaria do Pelotas, Pedro da Silva Ribeiro, com quem Matheus travara relações de amizade, passando as famílias a se visitarem.
Desse convívio, Deus traçaria um grande destino para dois jovens, belos e cheios de mocidade, João da Silva Ribeiro e Maria Benta de Souza, que se uniram pelo matrimônio, tornando-se o tronco robusto e fecundo, de onde provém a numerosa descendência dos Souzas e dos Ribeiros que povoou os municípios de São Joaquim e Lages.
Quando se penetra na densa e emaranhada floresta dos primeiros povoadores de São Joaquim, à medida que se vai descobrindo as suas veredas e desfazendo os seus mistérios, tem-se a impressão que todos ali são parentes, formando uma única estirpe.
E há mais um fato notável: até hoje, decorridos duzentos anos dos tempos em que viveram Matheus José de Souza e Pedro da Silva Ribeiro, quase não houve penetração do elemento estrangeiro no território de São Joaquim. Ali impera e predomina, principalmente, os afluentes étnicos do branco, do negro e do pele vermelha, sendo que entre os Ribeiros e os Souzas, prevalece a raça branca de origem portuguesa.


Por ocasião do casamento de sua filha Maria Benta de Souza, com João da Silva Ribeiro, Matheus José de Souza lhe acrescentou ao rico dote quase a metade da Fazenda do Socorro.
Por morte de D. Clara Maria de Athayde, D. Maria Benta recebeu de herança, no inventário que se processou em 1810, mais uma boa parte da mesma fazenda.
Em 1820, no inventário dos bens com que faleceu Matheus José de Souza, o casal recebeu mais partes de campos e matos na Fazenda do Socorro.
Depois do falecimento do primeiro casal, isto é, Matheus José de Souza e Clara Maria de Athayde, que foram os compradores do Socorro de Manoel Marquez Arzão, João da Silva Ribeiro, por aquisições que fez aos herdeiros daquele casal, tornou-se único e absoluto dono do imóvel denominado de Fazenda de Nossa Senhora do Socorro.
Maria Benta de Souza e seu digno marido, ali passaram os dias de sua útil vida, ali viveram, cresceram e casaram todos os seus filhos. Os alicerces e as paredes da velha residência, cuidadas e renovadas pelos seus sucessivos donos, ainda estão de pé, desafiando o perpassar dos anos e abrigando todos os seus senhores.
Junto à propriedade existe um cemitério particular, onde dormem o seu derradeiro sono, Matheus José de Souza, seu genro João da Silva Ribeiro “Sênior” (1787-1868) e o filho deste, Matheus Ribeiro de Souza (1829-1900) e sua primeira mulher e prima-irmã, Maria Magdalena Baptista de Souza (1833 – 1867) e muitos descendentes das gerações seguintes. As duas primeiras matriarcas, porém, não foram ali sepultadas: D. Clara Maria de Athayde, falecida em 13 de setembro de 1810, segundo certidão de óbito registrada no livro mais antigo da paróquia de Lages, p.26, morreu de crupe e foi enterrada embaixo do púlpito da igreja matriz. Registro feito pelo Padre Francisco José de Francia; D. Maria Benta de Souza faleceu em 1857, de hidropisia, e foi sepultada no primeiro cemitério público de Lages, aberto em 1848, atrás da igreja matriz.
São os velhos troncos de numerosas e ilustres famílias, os que fizeram, por assim dizer, o devassamento do solo joaquinense.

Paz aos seus grandes espíritos!

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Texto original extraído do caderno manuscrito de Enedino Batista Ribeiro, denominado HISTÓRIAS QUE NÃO VÊM NA HISTÓRIA, elaborado no ano de 1950, em Florianópolis, SC, na residência da Família “Palma Ribeiro”.
Texto adaptado, inclusive com correção de dados, obtidos pela pesquisadora em várias fontes oficiais, como o historiador Bogaciovas, Paróquia de Lages, Museus do Judiciário em Florianópolis e Thiago de Castro em Lages, e várias outras.
Florianópolis, SC, novembro de 2011.


sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Primitivas fazendas serranas e seus senhores (Continuação)

Notas sobre Santa Ana, hoje Urupema, do município de São Joaquim
Textos originais de Enedino Batista Ribeiro (de 1950)

2º. Segundo se sabe, o povoamento do grande território que vai da Fazenda da Divisa à de Santa Bárbara teria começado em meados do século XVIII.
Os primeiros habitantes e proprietários da Fazenda da Divisa, aí por 1790, teriam sido Antônio Caetano da Silva Machado, casado com Ismênia Muniz de Saldanha, pais de 16 filhos, sendo 12 mulheres.
Já em pleno século XIX, Antônio Caetano da Silva Machado e sua numerosa família, faziam a prosperidade de Sant’Ana, espalhando-se por quase todo o território do município de São Joaquim, num intenso entrelaçamento com as demais famílias, quer deste município quer com representantes de importantes famílias lageanas.
Em São Joaquim, um seu filho, Leonel Caetano da Silva Machado, destacou-se muito vindo a ser um dos seus prefeitos, então com a denominação de “superintendente”; foi por muitos anos Primeiro Suplente de Juiz de Direito, desempenhando sua missão com acerto e a contento de todos.
Uma de suas filha, de nome Prudência Emília da Costa, casando-se com um representante da ilustre Família Costa, deu origem a uma não menos ilustre estirpe, com vários representantes no Congresso Nacional, na Assembléia Legislativa do Estado, na medicina e na magistratura.
Aliás, Antonio Caetano da Silva Machado era paulista de nascimento, descendente da prestigiosa Família Machado, tendo um irmão que foi Presidente da Província de Santa Catarina, o Brigadeiro Machado de Oliveira, pai de Basílio Machado e avô do jurisconsulto Alcântara Machado. Era parente próximo do Dr. Antonio Gomes Pinheiro Machado, pai do grande General Pinheiro Machado que ilustrou as paginas da história do Brasil, Republica, tendo falecido assassinado no Rio de Janeiro, em 1915.


Antônio Pereira da Cruz, filho da Bahia, veio para Aririú, neste Estado.
Rico proprietário de navios mercantes, trouxe pedras de sua terra natal, que incluiu na construção de um sobrado de alvenaria que mandou edificar para sua residência no Aririu. Segundo se soube era solteiro, pai de filhos naturais que, por sua morte, foram seus herdeiros.
Pouco se demorou em Aririú, logo subiu a Serra e veio se estabelecer em São Joaquim, sendo o primeiro dono das fazendas de Sant’Ana e do Cedro.
Por falecimento de Antonio Pereira da Cruz, a Fazenda do Cedro passou para o herdeiro do mesmo nome, conhecido pelo apelido de Velho Cruz, que vem a ser o pai de Timóteo e Rufino Pereira da Cruz, e outros.
A Fazenda Sant’Ana, ficou para o outro herdeiro, Francisco Pereira de Medeiros, pai de Manoel Pereira de Medeiros e sogro de Manoel Joaquim Pinto, um dos fundadores da atual cidade de São Joaquim.
Um outro herdeiro, Manduca Pereira de Medeiros, herdou terras do outro lado do rio Lavatudo, isto é, na margem esquerda, no lugar hoje denominado “Santa Izabel”, cujas posses se estenderiam até a Fazenda de Monte Alegre.
Este homem, cujo nome verdadeiro era Manoel José Pereira de Medeiros (falecido em 1858), casou-se com Inácia Maria de Saldanha (1814-1904), filha de João da Silva Ribeiro e Maria Benta de Souza, cujo matrimônio originou a importante família Pereira de Medeiros, muito conhecida na atualidade, tendo uma de suas filhas, Florinda Pereira de Jesus, casado com Leonel Caetano da Silva Machado, já referido nestas notas.


As escrituras dessas Fazendas, todas, ou quase todas, manuais, eram registradas em Lages, em Viamão e, as mais primitivas, em São Paulo.
Como é sabido, naqueles tempos, em todos os instrumentos, públicos ou particulares, reservava-se como propriedade do Império, os passos nos rios e as madeiras de cerne.Por esse motivo, elas são chamadas até hoje “Madeiras de Lei”.


A Fazenda de Santa Bárbara, até as divisas com a Fazenda do Cedro, era propriedade da família Souza, muito numerosa e muito importante no passado e no presente da história de São Joaquim.
Dentre os velhos troncos, destaca-se, o de Joaquim José de Souza e o do famoso guerreiro Chico Souza, um dos comandantes de forças legais contra remanescentes dos Farrapos em Santa Catarina.Consta que o bravo Chico Souza deu cabo das guerrilhas, num combate a arma branca, na costa do Rio Lavatudo, em território de São Joaquim, aí por volta do ano de 1840.
(Nota):
Colaboração do Amigo João Araújo Lima.


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Adendo ao texto número 2 de Enedino Batista Ribeiro (banco de dados de Ismênia)

Família de Antônio Caetano da Silva Machado e de Ismênia Muniz de Saldanha – “D. Yayá”:

Antonio Caetano da Silva Machado (sem dados de nascimento, casamento e óbito)
Natural de São Paulo, filho de Francisco José Machado de Vasconcelos (sargento-mor) e de D. Ana Esméria da Silva. Seu irmão, José Joaquim Machado de Oliveira, foi o sexto presidente da Província de Santa Catarina, de 24 de janeiro de 1837 a 14 de outubro do mesmo ano.

Ismênia Muniz de Saldanha (1803 a 30.08.1888) “D. Yayá”, filha de Ignacio da Silva Ribeiro (1771-  ) e Anna Muniz de Saldanha (falecida em 1843). Ismênia era neta de Manoel da S. Ribeiro e de Maria Bernardes do Espírito Santo, casal este fundador da família Ribeiro em Santa Catarina. Anna Muniz de Saldanha era neta de Antônio José Muniz e Genoveva Maria de Saldanha.

Filhos de Antônio com Ismênia:

1.      BELIZÁRIA Pereira Machado, c. c. Manoel Tomaz Rodrigues.
2.      VIRGÍNIA Saldanha de Souza, c. c. José Rodrigues de Souza, filho de Manoel Rodrigues de Souza e de Anna Maria de Lima (da fazenda Bom Sucesso).
3.      CÂNDIDA Pereira Machado, c. c. Hermenegildo Alves da Rocha.
4.      CARLOTA Muniz de Saldanha, c. c. Polycarpo José de Souza, filho de Manoel Rodrigues de Souza e de Anna Maria de Lima (da fazenda Bom Sucesso).
5.      FELICIDADE da Silva e Souza, c. c. Ignácio Rodrigues de Souza, filho de Manoel Rodrigues de Souza e de Anna Maria de Lima (da fazenda Bom Sucesso).
6.      CAROLINA Muniz de Saldanha, c. c. João de Deus Pinto de Arruda.
7.      ANA Pereira Machado, c. c. José Pereira de Medeiros.
8.      UMBELINA Muniz de Saldanha, c. c. Manoel Belizário Borges.
9.      IGNÁCIA Muniz de Saldanha, c. c. 2ª esposa de Vidal Agostino de Liz.
10.  PRUDÊNCIA Emília, c. c. Laurentino da Costa (bisavô de Licurgo Costa).
11.  ISMÊNIA Muniz de Saldanha, c. c. João Luiz Vieira Júnior.
12.  MARIA CAETANA Muniz de Saldanha, solteira. Era surda-muda.
13.  LEONEL CAETANO da Silva Machado, c. c. Florinda Pereira Machado.
14.  POLYCARPO CAETANO da Silva Machado, c. c. Belmira Andrade Machado.
15.  ANTÔNIO CAETANO Machado Filho, c. c. Ana Ribeiro Machado, filha de Pedro José Ribeiro e Jacinta.
16.  JOSÉ CAETANO Machado, c. c. Maria Pereira, filha de Clemência Pereira de Liz e Vidal Agostino de Liz.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Primitivas Fazendas Serranas e seus Senhores

Textos originais de Enedino Batista Ribeiro (1950)

1º. Fazenda do Socorro

           Esta fazenda é umas das propriedades mais primitivas do município de São Joaquim – Santa Catarina.
E como tinha sido o berço natal dos meus mais longínquos antepassados, paternos e maternos, dedico-lhe algumas paginas, tracejando a sua monumental história de latifúndio agro-pecuário.
Comecemos por dar ligeiras informações sôbre a sua Demarcação, medição e divisão que pôs termos ao condomínio pertencente a mais de uma centena de co-proprietários, cuja indivisão permaneceu por cerca de 140 anos, ou seja de 1775 a 1916.
A Ação de Demarcação, Medição e Divisão da Fazenda do Socorro, teve início no dia 8 de maio de 1915, sendo requerida por Manoel Cecílio Ribeiro, sua mulher e muitos outros, por seu advogado Dr. Nereu Ramos.
No mesmo dia, o Dr. José Fonseca Nunes de Oliveira, jurou suspeição por ter um cunhando interessado na divisão. Passou então a funcionar como Juiz a-quó o Sr. Gregorio Pereira da Cruz, na qualidade de 1º Substituto do Juiz de Direito da Comarca de São Joaquim.
O seu primeiro ato constou de nomeação do Sr. Capitão-mor Laurenço Dias Batista Júnior para curador ad-litem dos menores constantes dos autos de medição.
Foi escrivão do feito o Sr. Polidoro Paulino dos Santos, que exercia o Cargo de Escrivão de Órfãos e Cível da Comarca. Como procurador de vários condôminos funcionou o cidadão João de Paula e Silva; igualmente o Sr. Paulo BAthke foi constituído procurador de interessados na medição; mais tarde êste ultimo procurador subestabeleceu na pessoa do primeiro, os poderes que lhe haviam sido conferidos.
A ação foi contestada, alegando-se diversas nulidades.
Em 18 de fevereiro de 1916, o Juiz Suplente proferiu a sentença anulando a causa ab initio. Dessa sentença apelaram os autores, sendo o seu advogado – Dr. Nereu Ramos arrozoado na Superior Instância. Nesta altura do processo foi constituído advogado de Tomé José de Souza e outros, o Dr. Marinho de Souza Lobo, que apresentou razões pelos apelados.
Falou o Procurador geral do Estado e relatou longamente o feito, o Desembargador Honório da Cunha; em 13 de fevereiro de 1917, o Superior Tribunal de Justiça de Estado, em acordam deu provimento à apelação, reformando a sentença apelada, mandando prosseguir na divisão e demarcação da Fazenda do Socorro.
Foram opostos embargos ao referido Acordam; o Tribunal, em novo Acordam de 8 de junho de 1917, desprezam os aludidos embargos, confirmando o Acordam embargado.
Foi interposto recurso extraordinário para o Egrégio Supremo Tribunal Federal, pelo Dr. Marinho de Souza Lobo, procurador de Toné José de Souza e outros. Aconteceu que as partes interessadas não providenciaram o prosseguimento do mesmo recurso, e os autos de medição baixaram à Comarca de São Joaquim para os ulteriores termos de direito.
Prestam compromisso de agrimensor nomeado, no dia 23 de setembro de 1915, o Sr. Ernesto Borel, que falecera sem ter funcionado no feito; o agrimensor suplente, João Saring, alegando motivo de saúde, escusou-se de trabalhar na medição e demarcação e bem assim o curador a lide, Lourenço Dias Batista, não funcionou no feito, por se ter mandado para o Rio Grande do Sul, sendo nomeado seu substituto o Dr. Flósculo Esteves de Carvalho.
Foi nomeado como agrimensor do feito o Engenheiro Emílio Gallois, que pronunciou a promessa legal e apresentou relatórios, e um grande mapa da divisão geodesica do imovel com a área de 110.081.000 ms2, sendo (o mapa) última peça que se vê nos alentados autos, em 2 de novembro.
A Fazenda do Socorro está situada no 2º Distrito de Bom Jardim, do Município de São Joaquim, dêste Estado.
Em 1775, não sei por que título de aquisição, pertencia a Manoel Marques Arzão, que a vendeu a Matheus José de Souza, cuja escritura particular traz a data de 19 de abril do dito ano de 1775.
É um documento autêntico, e o mais velho que êstes meus olhos já viram e minhas mãos compulsaram.
Os limites da tradicional fazenda, segundo a escritura de Arzão são as seguintes: “Partem para a parte do Sul com Manoel da Silva Ribeiro, servindo de divisa um arroio que faz barra no Rio das Pelotas, chamado Porteira; e para a parte do Norte parte com o tenente Antônio Marques Arzão, servindo de divisa um ribeirão que nasce da Serra-do-Mar que faz barra no Rio das Pelotas, e para a parte do Este parte com a tapera que foi do Padre José Carlos servindo de divisa restingas e faxinais”.
É bom anotar que a aludida escritura de venda da fazenda para Mateus José de Souza, foi registrada a fls. 822 do Lº nº19 do Cartório de Notas da cidade de São Joaquim, pelo Tabelião Luiz do Nascimento Carvalho, em 10 de abril de 1912.
Em 1857, por ocasião do inventário de D. Maria Benta de Souza, mulher de João da Silva Ribeiro, esta enorme fazenda foi avaliada pela bagatela de nove contos de reis (9.000$000).
Segundo a tradição Maria Benta era a filha dileta do velho Matheus que, ao fazê-la casar, a dotou com a metade de suas terras na aludida fazenda.
Por morte de Maria Benta, e dez anos mais tarde em 1868, de seu marido o dito João da Silva Ribeiro, a fazenda foi partilhada entre seus filhos, não sendo demarcado, medida, ou feita a divisão geodésica, permanecendo a indivisão por mais de meio século.
Matheus Ribeiro de Souza, um dos filhos do casal, herdou na fazenda terras no valor de um conto de (1.000$000); mais tarde foi comprando as partes herdadas por seus irmãos, tornando-se o dono de quase a totalidade das terras de Socorro.
Hoje em dia, a Fazenda do Socorro acha-se muito dividida, pertencendo suas terras, em maioria, a pessoas estranhas à Família, sendo seu maior proprietário Adolpho José Martins, que foi casado em primeiras núpcias com Dolores Ribeiro Martins, neta de Matheus Ribeiro de Souza.
Minha visita ao vetusto solar de Matheus José de Souza, berço e origem dos Ribeiros de Souza, de São Joaquim: ainda não se realizou...

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Nota: A Fazenda do Socorro pertenceu a Matheus José de Souza e Clara Maria de Athayde, cuja filha Maria Benta de Souza (1790 – 1857) casou-se com João da Silva Ribeiro (1787 – 1968), casal este que iniciou o povoamento da referida fazenda.
Maria Benta e João Ribeiro tiveram nove filhos:

1.      Felisbina Maria de Saldanha (? – 17.07.1888),
c. c. Manoel Bento Rodrigues Nunes

2.      Pedro José Ribeiro (? - 07.12.1882)
c. c., em 1ª núpcias, com Jacionta Maria de Saldanha (falecida em 1866),
em 2 ª núpcias, com Francisca Ana Ribeiro,
em 3ª núpcias, com Anna Maria Rabello

3.      Felicidade Maria de Saldanha (1812 - ? )
c. c. Fermino Rodrigo Nunes ( ? - 1887)

4.      Ignácia Maria de Saldanha (1813 – 1904)
c. c. Manoel José Pereira de Medeiros ( ? - 1859), “Manduca Pereira”

5.      João da Silva Ribeiro Júnior (1819 – 1894), “Coronel João Ribeiro”,
c.c. Ismênia Baptista de Souza (1832 – 1912)

6.      Manoel Bento Ribeiro (1828 – 01.12.1895)
c. c. Felicidade Maria Rodrigues (?)

7.      Maria Benta de Saldanha (1826 – 1857)
c. c. Joaquim José de Souza (?)

8.      Matheus Ribeiro de Souza (1829 – 1900)
c. c., em 1ª núpcias, com Maria Magdalena de Souza (1833 - 1867)
c.c., em 2ª núpcias, com Maria do Nascimento Amaral e Souza, "Senharinha" (25.12.1848 - ?)

9.      Ana Maria de Saldanha (?)
c. c. Francisco Propício de Souza (?)




Mapa da Fazenda do Socorro, pertencente ao Sr. Adolpho José Martins e outros. Mapa confeccionado pelo Engenheiro Emílio Gallois, 1919.
 

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A doação de um terreno por Bento Cavalheiro do Amaral para a construção de um asilo em São Joaquim da Costa da Serra

                Atendendo a pedidos, completamos o estudo sobre BENTO CAVALHEIRO DO AMARAL que doou em 28.06.1903 à cidade de São Joaquim da Costa da Serra um terreno destinado à construção  de um estabelecimento de caridade. Já apresentamos parte desse estudo com a descrição genérica da família Cavalheiro do Amaral em “Notas bibliográficas dos dez fazendeiros responsáveis pela fundação, em 01.04.1873, de São Joaquim da Costa da Serra”,  na postagem do dia 10 de fevereiro de 2011 (http://genealogiaserranasc.blogspot.com/2011/02/notas-biograficas-dos-dez-fazendeiros.html). Relataremos, a seguir, o resumo do Inventário  Judicial nº 355-11-Fls 38, que atualmente se encontra arquivado no Museu do Judiciário de Santa Catarina, em Florianópolis, referente a BENTO CAVALHEIRO DO AMARAL.

BENTO CAVALHEIRO DO AMARAL (1912)

Autuação: 09.10.1912
Testamenteiro: Genovêncio da Silva Mattos
Juiz: José da Fonseca Nunes de Oliveira
Escrivão: Luiz do Nascimento Carvalho, no cartório do qual está arquivado o Testamento do inventariado, a Fls 3
Companheira: Cândida Maria Pereira

            Resumo do Testamento:

De BENTO CAVALHIERO DO AMARAL, natural de SC, domiciliado na Comarca de São Joaquim da Costa da Serra, solteiro, filho de Manoel Cavalheiro Leitão e de Mariana Cândida d´Almeida, ambos já falecidos (e amasiados, sendo Manoel Cavalheiro Leitão solteiro – filho de cidadão do mesmo nome, c. c. Matilde Maria do Amaral Fontoura – informação entre parênteses desta pesquisadora). Declara não ter vivos mais nenhum ancestral. Declara mais ter uma filha de nome HERCULANA PEREIRA DO AMARAL, havida de Cândida Maria Pereira que é mulher solteira, sem impedimento para casar e vive há muitos anos em companhia do testador, sendo que a filha àcha-se legalmente c. c. JOSÉ CUSTÓDIO PEREIRA e acha-se legitimada legalmente.
É a sua única herdeira. Declara que a sua terça dispõe da seguinte forma: será separada somente em campos e matos de sua Fazenda Campo do Gado, sita no município de São Joaquim, repartida em partes iguais entre seus netos GERVÁZIO PEREIRA DO AMARAL, LAURIVAL PEREIRA DO AMARAL e ANFROSIO PEREIRA DO AMARAL.
Sua companheira e avó de seus netos, enquanto viver terá o usufruto dos bens que lhe couberem em partilha, revertendo, após sua morte, para os aludidos netos. Como legatários de sua terça, terão o direito de escolher o lugar de sua preferência, antes da herdeira. Deixa à sua companheira, Cândida Maria Pereira, 20 vacas em cria, um touro, uma junta de bois carreiros, seis bestas mansas arreiadas e cinco cavalos mansos, tudo à sua escolha e vontade. Dentre os terrenos que possui, deixa uma área de terreno próxima à vila de São Joaquim, destinado esse terreno para nele ser construído um estabelecimento de caridade, um asilo para indigentes. O que sobrar do terreno deverá ser arrendado para angariar fundos necessários à manutenção do Asilo. Esse terreno será administrado por sua herdeira, até que possa passar para a administração da Associação responsável pelo Asilo. Escolhe como testamenteiros seus compadres e amigos Joaquim Antonio Areal, ao Ten. Cel.Genovêncio da Silva Mattos e em 3º lugar, o Senhor Coronel José Joaquim de Córdova Passos que façam a obra de caridade de fazerem cumprir essas suas últimas vontades. Documento redigido de próprio punho, em São Joaquim, aos 28 dias do mês de junho de 1903. Testemunhas: Major Cezário Joaquim do Amarante, Major Juvenal da Silva Mattos, Boaventura Lopes Pinto de Arruda, o advogado José Accacio Soares Moreira e Thomaz Francisco da Roza, mais o Tabelião de Notas Bernardino Esteves de Carvalho.
Esse testamento foi aberto e lido no dia 13 de setembro de 1912 em São Joaquim, na casa de residência do Sr. José Custódio Pereira, aonde se encontrava o Juiz Dr. José da Fonseca Nunes de Oliveira, o escrivão Luiz do Nascimento Carvalho, o irmão do falecido, Antonio Cavalheiro do Amaral Tota, das duas testemunhas, Paulo Bathke e Belizário Ribeiro de Córdova.
Certidão expedida pelo escrivão Jacintho Rebello Flores
Coletor estadual: José Alves Araújo Lima, em 27.09.1912
Escrevente: Sócrates Martins Cassão.

Nota: um pequeno papel, arquivado junto ao processo, avisa que foi perdida a certidão referente ao legado feito por Bento Cavalheiro do Amaral à comunidade para construção de um asilo para indigentes, a certidão com o título dos herdeiros.

Titulo dos Herdeiros:

1- HERCULANA PEREIRA DO AMARAL
c. c. João Custódio Pereira

2- Neto legatário: GERVASIO PEREIRA DO AMARAL, 14 (1898-     )

3- Neto legatário: LOURIVAL PEREIRA DO AMARAL, 12 (1900-     )

4- Neto legatário: ANFRÓSIO PEREIRA DO AMARAL, 11(1901-     )

BENS DE RAIZ

1- Uma parte de campos e matos na FAZENDA CAMPOS DO GADO, herdada do pai, Manoel Cavalheiro Leitão;

2- Uma casa e suas benfeitorias situadas na referida Fazenda e outra sita na vila de São Joaquim;

3- Uma gleba de campos e matos na FAZENDA VARGINHA, no mesmo município, anexa aos campos do Capitão Manoel Lourenço de Lima Sobrinho;

4- Uma parte de campos e matos na FAZENDA DO MORRO AGUDO que houve por herança do irmão, Manoel Cavalheiro do Amaral;

5- Uma parte de campos e matos de uma INVERNADINHA, na mesma FAZENDA DO MORRO AGUDO, dividindo com o Sr. Antonio João Cantisani;

6- Um potreiro fechado por taipas na FAZENDA MORRO AGUDO, contíguo à cidade de São Joaquim.

MONTE MOR
Monte mor: 35:784$000
Monte partível: 28:450$000
Legítima da herdeira Herculana Pereira do Amaral: 18:966$667
Legítima de cada legatário: 1:719$583.


Fonte: Inventário Judicial com Testamento de Bento Cavalheiro do Amaral, N. 355 – L1 – Fls 38, Arquivado no Museu do Judiciário de SC, em Florianópolis.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Estudo Histórico-Genealógico relacionado ao doador do imóvel Invernada dos Negros (SC)*

Por Ismênia Ribeiro Schneider

* Artigo originalmente publicado na Revista História Catarina. Ano III, nº 12, maio/junho 2009.

Em 1877, o estancieiro Matheos José de Souza e Oliveira doou a libertos e escravos, através de testamento, a terça parte das terras de sua fazenda São João, perfazendo um total de cerca de 8 mil hectares, situada a 22 km do município de Campos Novos, imóvel que passou a ser chamado de Invernada dos Negros. 
O testamento, além de informar sobre o nome dos onze herdeiros, determinava a condição de inalienabilidade e indivisibilidade das terras herdadas. Com essa cláusula, o doador preocupava-se em garantir que as terras jamais pudessem ser comercializadas, mas somente transmitidas de geração em geração, permanecendo na posse dos herdeiros. Tal atitude, inédita na relação senhor/escravo, determinou uma nova forma de organização social para seus herdeiros, envolvendo o contexto quilombola[1].
No entanto, apesar da preocupação do testador, a cláusula restritiva não conseguiu impedir que a área sofresse inúmeras intervenções, com diversas tentativas de apropriação indébita por parte de advogados, empresas de papel e celulose, entre outros, interessados na riqueza das terras e matas doadas. O processo de titulação das terras da Invernada está neste momento (2009) em fase adiantada de processo jurídico, dizendo respeito ao direito à terra de seus legítimos proprietários[2].
 Os aspectos antropológicos, sociológicos e jurídicos decorrentes dos problemas surgidos ao longo dos anos com a Invernada dos Negros, que intrigam até hoje os estudiosos, estão sendo tratados por especialistas e setores competentes, como a Universidade Federal de Santa Catarina, o Ministério Público, entre outros.
Como pesquisadora de famílias e fazendas da Região Serrana de Santa Catarina desde 1999, principalmente as que dizem respeito a meus antepassados – Souza, Ribeiro e Palma – oriundas todas da Comarca de Lages, e mais especificamente ainda da Costa da Serra (entorno dos atuais territórios de Bom Jardim, São Joaquim, Urubici, Painel, Urupema e Coxilha Rica/Lages), com pulverização de famílias descendentes em regiões vizinhas, como Curitibanos, Campos Novos e adjacências, sinto-me no compromisso histórico de contribuir com os dados genealógicos do Major Matheos José de Souza e Oliveira (1823/1878), filho de Joaquim Antunes de Oliveira e Maria Magdalena de Souza (e após a morte desta, com sua segunda esposa, Maria Rodrigues Borges), para situá-lo no contexto histórico e familiar em que viveu.
Em 2002 tive ocasião de estudar o inventário sem testamento de 1879[3], no qual era inventariado o cidadão Joaquim Antunes de Oliveira, falecido em 08/04/1879 em sua Fazenda “Chapada Bonita”, localizada na região do Bom Sucesso, em São Joaquim da Costa da Serra. Possuía, porém, outra fazenda na região de Campos Novos, situada na confluência dos rios Inferno Grande e São João e denominada “São João”, na qual estabeleceu parte dos filhos do primeiro matrimônio.
Joaquim Antunes de Oliveira contraiu primeiras núpcias  com Maria de Souza, em 29/04/1821[4],  filha de  Matheos José de Souza (1737-1820), importante cidadão de Lages, cujo nome foi dado ao neto, o nosso biografado. O avô foi casado com Clara Maria de Athayde (1774-1810), casal que se tornou   tronco da Família Souza  em Santa Catarina, domiciliado na região do hoje município de Bom Jardim, onde era proprietário da Fazenda do Socorro.  Matheos/Clara Maria tiveram sete filhos, por sua vez ancestrais de importantes famílias serranas. Maria de Souza era a sexta filha, tendo passado para a crônica familiar com o nome de “Maria Magdalena de Souza” (dado colhido por Enedino Batista Ribeiro em inventário judicial[5]). No entanto, nos documentos manuscritos existentes sobre a Família Souza no Museu Thiago de Castro de Lages e no registro de batismo[6] do seu filho Matheos  é referida como “Maria Josefa de Souza e Athayde”.
O inventário de Joaquim Antunes de Oliveira relaciona os seguintes filhos nesse primeiro casamento:
1 – Manoel Antunes de Oliveira,     casado com (c.c.) Maria Bernarda do Espírito Santo (falecida em 1882). Domiciliados no município de Lages.   09 filhos.
 2 – Joaquim Antunes de Souza.      Domiciliado no município de Lages.
 3 – João Antunes de Souza, c.c. Fermina Maria da Silva (falecida em 1868), já viúva de João Vicente dos Santos, pais de 01 filho. Do casamento com João houve 07 filhos. Domiciliados em Campos Novos, termo de Curitibanos.
 4 – Francisco Antunes de Souza. Domiciliado em Campos Novos, termo de Curitibanos.
 5 – José Antunes de Souza.  Domiciliado em Campos Novos, termo de Curitibanos .
            Da página 28  à  33 do inventário de Joaquim aparecem documentos que atestam que o casal  teve um sexto filho, Matheos José de Souza e Oliveira, falecido antes do pai e, por isso, não relacionado na lista de herdeiros. Nesses documentos constam, as seguintes informações, em grafia original:
“(...) Acontece que existe na freguesia de S. João dos Campos Novos, termo da villa de Curitibanos, três partes de campos e mathos, que o mesmo finado obteve por herança de seo filho ofinado Tenente Matheos Jose de Souza e Oliveira, cujas partes de campos e mathos em inventário procedido a um anno mais ou menos por morte deste finado, tiverão o valor de quinze contos como prova o documento junto, com cujo valor se conformam os suplicantes, evitando assim a expedição de uma precatoria, para aquelle juízo, e maiores dispendios com prejuízo dos interessados[7]”.
Por esses dados, fica comprovado que o major Matheos José de Souza e Oliveira, casado com Pureza Emília da Silva, sem filhos, repartiu sua herança entre o pai, Joaquim Antunes de Oliveira, três partes, e uma parte deixada, ainda em vida, em testamento de 1877, a onze de seus libertos e escravos, imóvel que passou à história como INVERNADA DOS NEGROS, como vimos acima.
Não tivemos ainda acesso ao testamento, nem ao inventário do próprio Matheos José de Souza e Oliveira, para esclarecer por que não foi sua herdeira a sua mulher, Pureza Emília da Silva. Uma das possibilidades é que tenha falecido antes dele. Sabe-se pelo inventário do pai, Joaquim, que este foi o primeiro proprietário da Fazenda São João em Campo Novos, para onde enviara quatro dos seis filhos homens do primeiro casamento. Pelos documentos disponíveis, sabe-se também que Matheos tornou-se rico estancieiro na região. O que aconteceu com os outros três herdeiros? Matheos comprou dos irmãos a fazenda toda? Questões que só serão respondidas com o aprofundamento do estudo histórico-genealógico e com acesso aos documentos fundamentais.
Um outro elemento genealógico coloca sob o foco da historiografia serrana a família de Matheos José de Souza e Oliveira, que é o fato de ele ser primo-irmão da figura lendária de Ana de Jesus Ribeiro, conhecida como Anita Garibaldi. A mãe de Anita, Maria Antonia de Jesus, batizada em 12/06/1788 na matriz de Lages, era irmã de Joaquim Antunes de Oliveira, o pai de Matheos. Maria Antônia e Joaquim eram filhos de Salvador Antunes e de sua segunda mulher, Quitéria Maria de Souza[8], estes portanto, avós tanto de Matheos quanto de Anita Garibaldi.
Salvador Antunes, que era paulista de nascimento, no início de sua vida em Santa Catarina foi capataz da Fazenda Tijucas, na Costa da Serra (Bom Jardim). Chamo  a atenção dos estudiosos de Anita para os seguintes fatos, que fazem parte da história oral das famílias Ribeiro e Souza e que pelos presentes estudos possuem fortes indícios de veracidade. Essas duas famílias também possuíam fazendas e moravam  nessa mesma região: próxima à Fazenda Tijucas, ficava  a Fazenda do Socorro, comprada em 1775 pelo patriarca da Família Souza, o avô materno de Matheos, já citado. Uma das filhas mais velhas do casal Matheos/Clara Maria, Maria Benta de Souza (1790-1857) ,  casou-se com João da Silva Ribeiro (1787-1868), ocasião em que recebeu como dote de casamento uma parte da Fazenda do Socorro, onde o casal estabeleceu domicílio. Com o tempo, João Ribeiro comprou mais terras no Socorro (fazenda original de cerca de 110 milhões m²), passando as famílias Souza e Ribeiro a conviver estreitamente e a aprofundar os laços de consanguinidade através do casamento de descendentes, e que iam  herdando terras nessa fazenda e em outras da vizinhança que lhes pertenciam (“Pelotas”, “Campo de Fora”, “Santa Bárbara”, “Três Barras”). Pois bem. Conta a crônica familiar que o pai de  Anita Garibaldi, Bento Ribeiro da Silva, no começo da vida de casado, foi, por sua vez,  capataz  de uma das fazendas citadas, todas na Costa da Serra e próximas umas das outras. Segundo essa história, “Aninha do Bentão” e seus irmãos brincavam com as crianças das outras fazendas. Quem a contava era Ezírio Bento Rodrigues Nunes (1822-1916), neto de Maria Benta/João Ribeiro, conforme relato familiar e dados de Licurgo Costa[9]. Essa, porém, é apenas mais  uma das histórias que povoam o imaginário das famílias numerosas e unidas que viviam nas primitivas fazendas serranas. É difícil comprovar quais são verdadeiras.
Mas o que marcou a figura de Matheos José de Souza e Oliveira e que avulta e orgulha a crônica da Família Souza é, sem dúvida, o nobre e inusitado gesto de deixar a onze de seus escravos e descendentes vasta área de terras, que lhes garantiu, dessa forma, para sempre, não só a sobrevivência, mas principalmente a liberdade e a dignidade.



Referências Bibliográficas:


[1] - Informações obtidas em http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2008/12/435033.shtml. Acessado em 15 de janeiro de 2009.
[2] - Ver diversos artigos publicados sobre o assunto, como os obtidos  nos seguintes endereços eletrônicos: http://www.nuer.ufsc.br/notíciasquilombos.invernada.html. Acessado em 15/01/2009
[3] - Museu do Judiciário de SC, em Florianópolis, Inventário de Joaquim Antunes de Oliveira, de 1879. Processo nº338, Cx. 29.
[4] - Paróquia de Lages; Certidão de casamento (L2, Fls 76v).
[5] - Juízo de Direito da Comarca de Lages. Inventário judicial julgado por sentença  de 1810, na certidão parcial que se vê a fls.506 dos Autos de Divisão da Fazenda do Socorro.
[6] - Paróquia de Lages; Certidão de Batismo de 06/07/1823.
[7] - Museu do Judiciário de SC, em Florianópolis, Inventário de Joaquim Antunes de Oliveira, de 1879. Processo nº338, Cx. 29, p. 28.
[8] - Bogaciovas.  Revista ABRASP, n° 6, São Paulo, 1999, p. 61; Oliveira, Sebastião. Aurorescer das Sesmarias Serranas. Porto Alegre: Ed. Est, 1996; Costa, Licurgo. O Continente das Lagens. Vol 1. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura, 1982, p. 219.
[9] - Costa, Licurgo. O Continente das Lagens. Vol 1. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura, 1982, p. 245. 

domingo, 14 de agosto de 2011

A PRIMEIRA DAS PRIMEIRAS DAMAS DE SÃO JOAQUIM

CAMILLA MARIA DE JESUS (1853 - ?)
Esposo:  Tenente ANTÔNIO JOSÉ ALVES DE SÁ - Primeiro Prefeito

Por  Ismênia  Ribeiro Schneider
   (Este texto é continuidade do artigo sobre o primeiro prefeito de São Joaquim, publicado neste mesmo blog, em abril de 2011).
     Filha de Antônio Pereira de Camargo, dono da Fazenda “do Curralinho”, em São Joaquim, onde faleceu, muito jovem, em 1854, mordido por uma cascavel. Camilla é filha póstuma, a mais nova de três filhos. Antonio Pereira de Camargo era filho de Anastácio Pereira de Camargo e Maria Gertrudes de Souza.
A mãe de Camilla era “Donana”, Anna Antunes de Jesus, falecida a 10 de agosto de 1884, 30 anos após o marido, que substituiu na guarda dos filhos e na direção dos negócios, ampliando-os de modo que o espólio que recebeu de 16:720$580, por ocasião de sua morte estava em 46:815$361.
Donana era filha de Manoel Palhano de Jesus (em seu inventário de 1841, arquivado no Museu do Judiciário), conhecido, porém, na comunidade joaquinense (em Enedino Batista Ribeiro e Joaquim Galete da Silva, por exemplo) como João Baptista Palhano Prestes, c.c. Constância Maria de Souza, gaúcha, pais de oito filhos, por sua vez, troncos de importantes famílias serranas. Conta a crônica familiar que Manoel Palhano Prestes era tio de D. Leucádia, a mãe de Luiz Carlos Prestes.
Donana era irmã de Maria Antonia de Jesus (1821 -1888 ) “Mariazinha”, c.c. Antonio da Silva Mattos, dono da Fazenda das “Palmas”, pais de Inácio da Silva Mattos, c.c. Ismênia Pereira Machado, que passaram à história como Inácio e Ismênia PALMA, fundadores da conhecida estirpe joaquinense FAMÍLIA PALMA.
 Os dois irmãos de Camilla Maria de Jesus eram:
1 – JOÃO PEREIRA CAMARGO (1848 -  ?),
      c.c.Prudência Domingues Arruda
      Pais de 10 filhos.

2 – MARIA ANTONIA DE JESUS (1844 - ?),
c.c. Thomás Antônio de Souza ( “Thomazinho”).
13 filhos.
Domicílio: Fazenda “Fernandes” na região do “Bentinho”.


D.Anna Antunes de Jesus possuía as seguintes propriedades, que passaram para os herdeiros, por ocasião de sua morte:
 1- uma invernada de campos e matos na costa do rio Lavatudo, com casa de vivenda, suas benfeitorias, inclusive a mobília, 2 – os campo e matos da Fazenda do “Curralinho”, 3 - uma parte dos matos e campos da Fazenda do “Posto”, 4- uma parte de campos e matos na Fazenda do “Bentinho”. Uma casa na rua Nova em Lages. Uma casa na Fazenda do Posto.


FILHOS DO CASAL ANTÔNIO JOSÉ ALVES DE SÁ E CAMILLA MARIA DE JESUS:

(Foram encontrados, por Rogério Palma de Lima, no site de pesquisa Family Search, dos mórmons,                       
sete filhos do casal):

1) José – nascido em 06/07/1870
2) Julio – nascido em 04/04/1872
3) Dorvina – nascida em ?/01/1875
4) Emilia – nascida em 21/10/1878
5) Bernardino – nascido em 10/04/1880
6) Anália – nascida em 19/04/1882
7) Maria – nascida em 30/05/1894
           8) Donária (?)



OBSERVAÇÃO:
Em outubro de 2003, me foi solicitado pela Comissão Organizadora do evento AS PRIMEIRAS DAMAS DE SÃO JOAQUIM, uma breve biografia de algumas das homenageadas sobre as quais a Comissão estava encontrando dificuldade em localizar  dados . Na excelente brochura “Conhecendo São Joaquim”, de Rosemere Mariotti Machado e João Batista de Oliveira ( co-autor), encontrei a relação dos 25 prefeitos que tivemos até aquela data ( outubro de 2003). Constatei com grande surpresa, mas também com muito orgulho, que doze das  Primeiras Damas eram minhas parentes de sangue , e eu tinha a respeito delas as informações primordiais. O único intendente do qual eu nada conhecia  era o primeiro deles,  que fiquei admirada ao descobrir que era de minha família ancestral SOUZA, mais precisamente de Matheus José de Souza Júnior, do qual era neto, filho de  Maria Antonia da Silva, que se casara com o Comendador Bernardino Antonio da Silva e Sá. E CAMILLA, por sua vez, mulher de Antonio José Alves de Sá, primeiro intendente, era filha de D. Anna Antunes de Jesus, “Donana’, descendente da Familia Palhano Prestes, uma das quatro formadoras da família de minha mãe, a Palma. Confirmei, mais uma vez, ser verdadeira a afirmativa de meu pai de que, nós, joaquinenses, somos uma grande família. É preciso que mais pessoas de nossa comunidade pesquisem as suas origens, continuando a resgatar as linhagens que formaram o nosso povo.

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Banco de Dados de Joaquim Galete da Silva, Enedino Batista Ribeiro, Ismênia R. Schneider, do livro “Aurorescer das Sesmaria Serranas”,de Sebastião Fonseca de Oliveira, Edições EST. Porto Alegre,RS. 1996. Banco de dados ( caderno laranja de Osny de Souza Vieira, no estudo sobre seu cunhado,Ricardone Souza, que descende de Thomás Antônio de Souza).Banco de dados de  Tânia Arruda Kotchergenko.
Pesquisadora: Ismênia Ribeiro Schneider
Do Instituto de Genealogia de Santa Catarina –INGESC
Florianópolis, agosto de 2011.


                              BIBLIOGRAFIA
CORRÊA, Carlos Humberto. “Os governadores de Santa Catarina de 1739 a 1982”. Editora da UFSC. Florianóplis. 1982
CARVALHO, José Murilo de. “A Construção da Ordem –  II Teatro de Sombras”. Editora UFRJ,Relume –Dumará. Rio de Janeiro. 1996.
KOTCHERGENKO, Tânia A. Arquivo privado.
PIAZZA, Walter. “Dicionário Político Catarinense”. ?
RIBEIRO, Enedino Batista. “São Joaquim – Notícia Estatístico-Descritiva”. Publicação n.º23 do Departamento Estadual de Estatística de SC. Florianópolis. 1941.
INVENTÁRIOS arquivados no Museu do Judiciário de SC. Florianópolis. 2003 e na 2ª Vara do Fórum de São Joaquim.
Site Family Search - https://www.familysearch.org/, acessado em 15 de agosto de 2011, por Rogério Palma de Lima.